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Coluna
Emilia Turcato

Olhe um pouco para trás. Você já se sentiu inferior por ser brasileiro?
Você já parou para pensar em como a nacionalidade influencia a sua personalidade, em como ela te define?
Não é de hoje que se discute a sensação de inferioridade do brasileiro diante do resto do mundo, principalmente em comparação com países reconhecidos como mais “desenvolvidos”. O termo complexo de vira-lata foi cunhado pelo dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues, ao descrever a derrota sofrida pelo Brasil na final da Copa do Mundo do Uruguai, em 1950.
Complexo de vira-lata. Você tem? Por Emília Turcato


Somos uma gigante colcha de retalhos e nossa cultura se destaca pelo improviso, pela criatividade, pelo bom-humor...
Quem tem complexo de vira-lata pode achar que tudo que vem de fora é melhor, que morar na Europa é um sonho distante, que não temos condições de competir no mesmo nível. Porém as oportunidades aparecem, e, de repente, a vida pode mudar.
Cada brasileiro carrega consigo fragmentos de outras culturas. Somos uma gigante colcha de retalhos e nossa cultura se destaca pelo improviso, pela criatividade, pelo bom-humor. Estamos sempre preparados para vencer as atribulações do dia, é preciso ser rápido, esperto, ligeiro. Não dá para bobear, pois camarão que dorme, a onda leva. Essas são justamente qualidades que desenvolvemos dentro do nosso contexto.
Porém, quando nos materializamos no Velho Continente podemos sofrer um choque de realidade. O que poderia ser um sonho, pode se transformar num verdadeiro trauma ao deixar transparecer a baixa autoestima. Se alguém confunde a capital do Brasil com Buenos Aires ou pede para aprender umas palavrinhas em espanhol, é normal sentir um desânimo, mas para que se importar com isso? Vamos em frente. Mais adiante vai aparecer outra pessoa com tantas histórias entusiasmadas sobre o Brasil que nem esperamos.
Afinal de contas, o que te fez mudar de país? Quem muda de país já tem um grande valor, que é a coragem. E para construir uma vida estruturada no exterior é preciso aprender a se valorizar, jogando com as armas que possui. Usar o improviso a seu favor, mas aprender a se planejar a longo prazo. Organizar o dia a dia, mas estudar com profundidade os temas de interesse. Ser rápido, mas lutar contra a ansiedade, cultivar a paciência. Num país mais seguro, menos desigual, podemos relaxar e dar espaço a novas prioridades. Não é para ontem, é para um futuro melhor.
Nesses momentos de medo e incertezas, cerque-se de pessoas positivas, que facilitem a troca de experiências, participe de grupos que se mostrem acolhedores. Busque orientação de quem já superou as inseguranças ou divida as suas inquietações com quem também está no mesmo barco.
O medo enfraquece a vontade de continuar, bloqueia a ambição e dificulta a solução de problemas com inteligência.
Acredite, com discussão e reflexão a gente não vira lata, a gente pode virar o jogo.