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Coluna
Emilia Turcato

Acabei de voltar das férias no Brasil. Foram duas semanas de pausa. Não visitei outras cidades, além de São Paulo, Osasco e Barueri, ah, claro, e um almoço em Embu das Artes, porque ninguém é de ferro. Foi uma viagem de detox, de restart, uma parada obrigatória para buscar novo fôlego.
O voo de ida deve ter sido o mais apertado e sofrido que já tive. Senti na pele e na alma as dores causadas por aquela maçante posição encurvada. Acho que desenvolvi um trauma depois de passar décadas sentada por tantas horas seguidas, imóvel no escritório.
É contraditório voar como pássaro mas congelado e engaiolado no céu. Quando não estamos no comando não somos livres, não há como negar e, nesse caso, não há como evitar. Entreguei o destino nas mãos do piloto e de Deus.
Quando chego em São Paulo, estou em casa e quando volto para Itália, volto para casa também. As minhas origens são lá e cá. Mas há diferenças.
No Brasil é difícil se sentir só, um “bom dia” desconhecido, um “oi moça” amigável já nos empurram para encarar a luta diária. Há tantos obstáculos a vencer que qualquer incentivo é valioso. Naquelas terras, em se plantando tudo dá, seja para o bem ou para o mal. E aí é preciso ficar de olho, quando a simpatia é demais, o santo também desconfia.
Por que você saiu do Brasil?


É como se a beleza tivesse que ser degustada sem pressa, porém sem relaxar...
Somos antenados demais, em todos os sentidos. Quer saber o que está acontecendo? Fale com um brasileiro. Descubra em primeira mão as notícias do seu prédio, da sua cidade, do twitter, dos artistas com qualquer um que passar. Vá e volte de uber, viralize e fique rico, tudo interneticamente veloz.
De volta para Itália, desembolsando uma grana extra para ter alguns centímetros a mais na poltrona do avião, a vida muda. O ritmo é lento. E tudo é lindo. É como se a beleza tivesse que ser degustada sem pressa, porém sem relaxar. É tudo tão regrado que qualquer movimento espontâneo desmesurado pode pôr abaixo a rigidez da perfeição.

As raízes de um imigrante têm mão dupla, se alimentam por duas pontas e a energia vital transita freneticamente por essas realidades diferentes. Uma é ruim, mas é boa, a outra é boa, mas às vezes, é ruim também. Viver entre dois mundos é poder maximizar a sua bagagem, é entender o mundo como poucos, é se revisitar constantemente.
O melhor do Brasil é o brasileiro e o melhor da Itália é a Itália.